Por Valdecélia Martins
Fevereiro de 2020

A decisão de iniciar a Educação Domiciliar com nossas filhas não foi algo que nasceu da noite para o dia. Foi fruto de muita reflexão, pesquisa, leitura e, sobretudo, oração. Pensar em Educação domiciliar quando a criança nunca foi à escola ou ainda é pequena e não houve tempo de adquirir os vícios e os costumes escolares me parecia ser bem menos desafiador do que iniciar com uma adolescente com 14 e outra adentrando a adolescência, com 10 anos. A primeira sensação é de impossibilidade. Eu tinha certeza que não conseguiria.  Comecei, então, a estudar sobre o tema e a ouvir o testemunho de mães que também haviam iniciado a educação domiciliar com filhos na adolescência. Percebi que, apesar dos desafios, seria possível sim.

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Quando iniciei a Educação Domiciliar, sabia que não possuía todos os recursos e condições possíveis e não estava totalmente segura de que conseguiria, mas o fiz porque sabia que isso era o correto a ser feito, primeiramente, por obediência a Deus e, em segundo lugar, por ser o melhor para nossas filhas. Sabia que estava iniciando um caminho sem volta pelo fato de que depois que descobríssemos a liberdade de estudar em casa, não conseguiríamos nos prender mais a uma sala de aula.

Conhecer sobre Educação Domiciliar me fazia criar uma imagem mental de uma família de comercial de margarina, feliz e sorridente ao amanhecer, onde tudo era perfeito; crianças educadas e com um cabedal de conhecimentos sempre acima da média. Não sabia como e nem a que preço, mas era isso que queria para mim e minha família. Ao iniciar o ensino domiciliar descobri que a prática não é tão bela assim. É certo que há dias incríveis, mas há também os dias a serem esquecidos.  Temos que lidar primeiramente com a nossa natureza pecaminosa e indisciplinada; o cansaço, os inúmeros afazeres do dia a dia e ainda o mau humor próprio das transformações hormonais da adolescência. Honestamente, não contava com isso tudo! Parecia ser mais divertido.

Porém, acredito que o maior desafio do ensino domiciliar, não apenas na adolescência, mas em qualquer idade, será sempre nós mesmos, e principalmente, o nosso conceito preconcebido sobre como a aprendizagem acontece. Eu havia criado estereótipos sobre processos de aprendizagem e, inconscientemente, acreditava que a aprendizagem só pode acontecer em um ambiente escolar ou em outro ambiente que o reproduzisse. Foi pensando um pouco assim que comecei a ensinar minhas filhas; eu queria reproduzir em casa o ambiente da escola com horários inflexíveis e estava na batalha de construir uma escola onde eu era a dona, a diretora, professora, faxineira e merendeira. Queria ainda que as meninas estivessem sempre à frente das crianças que frequentavam a escola, pois assim, justificaria às pessoas, por meio do sucesso delas,  o fato de tê-las tirado da escola. Com essa prática, em pouco tempo estávamos cansadas, frustradas e os resultados que esperávamos não estavam sendo atingidos.

Sabia que algo teria que acontecer. O que estava vivendo estava longe de ser algo que havia imaginado ou estudado sobre educação domiciliar. Voltar as meninas para a escola estava fora de cogitação, algo tinha que mudar. Percebi, então, que as mudanças deveriam acontecer primeiramente em mim. Eu, na verdade, tinha uma mente altamente escolarizada, até mais do que as meninas. Isso me tornava o maior obstáculo para nossa nova rotina e modalidade de estudos. Sair do modelo convencional para a educação domiciliar era, sem dúvida uma mudança significativa, mas a maior mudança precisava acontecer na minha mente. Foi interessante descobrir a minha crença de que todas as crianças tinham uma única forma de aprender e esta forma estava no modelo de aprendizagem imposto pela escola. Para além disso, eu me sentia insegura, pois não me via capaz de corresponder às demandas de conhecimentos das minhas filhas. Foi preciso confiar muito na graça de Deus e na certeza de que, independente das minhas falsas concepções e minhas debilidades, estávamos fazendo a coisa certa e obedecendo à Sua Palavra. Isso me tranquilizava, a certeza da obediência. Em todo esse processo de mudança e aprendizado, as maiores resistências e dificuldades estavam em mim mesma. As meninas eram sempre mais solícitas e iam se adaptando mais rapidamente do que eu.

Decidi partir para a batalha e busquei  conhecer métodos de ensino que, com as adequações necessárias à nossa realidade, me deixassem mais tranquila e segura na jornada de educar e casa. Conheci o Método Clássico e vi que atendia às minhas expectativas, não só pela possibilidade de enriquecimento de conteúdo, mas pela valorização de princípios e virtudes que alinhavam-se com a Palavra de Deus.

O nosso avanço era significativo. Já havia compreendido que precisava de um método apropriado e que me permitisse usar as Escrituras como fonte. Ao entender isso, propus-me às mudanças e adaptações necessárias, mas ainda tinha que vencer o desafio da rotina.  Nunca fomos muito desorganizados em nossa rotina familiar; sempre prezamos pelos horários das refeições, estudos e culto doméstico, mas nada que se aproximasse de uma rotina de ensino doméstico. Resolvi começar a estudar sobre o assunto, lendo e ouvindo pessoas que poderiam me ensinar sobre rotina de educar em casa e achei tudo lindo! Meu desejo era começar logo a testar tudo que havia aprendido em nossa vida familiar. Depois de tudo anotado e esquematizado, finalmente, iniciamos nossa bem orientada e organizada rotina. Levou pouco tempo para eu perceber que estabelecer uma rotina é só o início da batalha. O maior desafio não era começar, mas continuar. Frequentemente, lidamos com as dificuldades comuns que alteram a nossa rotina e nos obrigam a remontar nossa programação diária de estudo e tudo mais. É necessário perseverar nos objetivos e manter-se no foco para não nos perdermos na caminhada.

A minha ainda breve caminhada na Educação Domiciliar me tem feito aprender algumas lições, as quais desejo compartilhar:

1. A educação em casa não tem que ser como a da escola. A ideia de que vamos reproduzir uma escola dentro de casa é natural quando se pensa em educação domiciliar, porém não tem que ser assim. Os horários e a rotina são importantes, mas não dá para engessar dentro da realidade do ambiente domiciliar. É necessário ser flexível e considerar as imprevisibilidades do dia a dia.

2. A prática da educação domiciliar nem sempre é como nos livros, mas é a nossa realidade, e cada um constrói a sua experiência de ensino, cada família vai ter a sua história.

3. É importante levar em conta também as características de cada filho. Cada criança é única e tem um jeito próprio de aprender. Há algumas que são mais ativas pela manhã, outras, à tarde etc. Todas essas questões são relevantes e fazem diferença no ensino domiciliar.

Dicas de uma mãe de adolescente:

1. É importante ter cuidado para não criarmos em nosso filho adolescente a expectativa de que ele irá dominar o mundo! Essa ideia de que nossos filhos devem ser os melhores, os mais bem sucedidos, nos foi impregnada e o resultado disso é uma geração frustrada que não é boa em nada; nossos filhos só precisam ser bons naquilo que Deus os chamou a ser e precisam vencer seus próprios desafios e limitações. Eles não têm que ser o destaque. No contexto escolar, o desempenho é quantificado por um número. Na educação domiciliar, queremos que o desempenho de nossos adolescentes seja evidenciado por tocarem algum instrumento, falarem outros idiomas ou por lerem a maior quantidade de livros. Tudo isso é importante, mas não deve ser a nossa medida de sucesso; a melhor medida de sucesso é criarmos nossos filhos conscientes de sua vocação e chamado cultural, com disposição de glorificar a Deus.

2. O adolescente é propício a se distrair e divagar muito. Por isso, é importante eliminar as distrações na hora do estudo e criar um ambiente tranquilo e apropriado à concentração e ao aprendizado. O mais importante não é a quantidade de horas que eles passam estudando, mas a qualidade do tempo dedicado a isso.

3. A rotina do adolescente deve contemplar atividades físicas, atividades de ajuda no lar, mas, principalmente, atividade de leitura bíblica e devocional individual. Nenhum sucesso será sucesso se não for para a glória de Deus. Mais importante do que formar seres humanos com vastos conhecimentos científicos e tecnológicos é ensinar nossos filhos a serem servos de Deus. Sendo assim, devemos pensar no desenvolvimento deles priorizando o crescimento espiritual por meio da Bíblia, do aprendizado de virtudes, valores e serviço cristão, sempre projetando-os para a eternidade.

Espero ter contribuído de alguma forma com essa partilha de experiências e agradeço que tenham chegado até aqui nessa leitura! [Deem uma olhadinha no vídeo abaixo de uma experiência de nossa filha Esther].

Que a graça de Deus nos assista nessa gloriosa missão de ensinar!

Fonte Texto: Valdecélia Martins – Equipe Educalar.
Revisão do texto: Jemima Ribeiro – Equipe Educalar.
Fonte Imagens: Valdecélia Martins – Equipe Educalar.

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