Por Cynara de Souza
Junho de 2020
Que escolher um método é importante para começar a educação domiciliar já sabemos, mas como fazer isso é, como dizem, outros quinhentos. No texto de hoje reuni algumas dicas de como analisar um método e ver se ele se alinha com a sua cosmovisão.
No texto anterior (se você não leu clique aqui), falei que todo método tem uma filosofia educacional por trás. De fato não existe método neutro. Todos têm uma cosmovisão que baseia as decisões metodológicas. E é exatamente nesse ponto que reside a questão principal ao escolher um método.
Antes de começar, gostaria de definir alguns termos que usaremos aqui.
Filosofia/ Filosofias Educacionais: conjunto de ideias e crenças sobre o mundo, objetivo da educação, processo de aprendizagem e coisas desse tipo. Nela, existem definições do que se crê sobre o homem, sobre Deus e sobre a criança.
Cosmovisão: modo de crer sobre o mundo que molda as percepções, opiniões e ações. É a maneira de pensar que se reflete em ações específicas.
Métodos: ferramentas que uma filosofia educacional empreende para chegar ao objetivo de sua crença.
Então vamos lá, o que se deve analisar para escolher um método? Acredito que essa análise acontece em quatro etapas: (1) entender a cosmovisão da família, no que creem, qual o objetivo familiar; (2) entender a filosofia educacional dos diversos métodos, identificando se o que eles creem sobre Deus, os homens e o mundo está de acordo com o que se crê; (3) entender os métodos pedagógicos, de onde eles partem (filosofias) e onde eles chegam (objetivo da educação); (4) escolher o que está de acordo com o que se crê e deseja;
#1 Entender a cosmovisão da família
Todas as pessoas creem em algo, até os ateus. Afinal, crer que Deus não existe é uma crença. Da mesma forma, todas as pessoas têm concepções acerca de quem é o homem, quem é Deus, quem é a criança, como aprendemos e etc. E como toda família é constituída de pessoas, todas as famílias têm uma cosmovisão e um objetivo familiar. Se você não sabe qual é a cosmovisão da sua família, não parou para pensar sobre isso, é importante que o faça antes de ir buscar um método.
Esse momento pode ser difícil, mas existe uma excelente notícia para aqueles que são cristãos: a Bíblia traz princípios que norteiam nossa cosmovisão. Isso deve alegrar o nosso coração e nos fazer buscar esses princípios. Se nossa cosmovisão for contrária às escrituras, devemos modelar nossos corações e convicções às verdades bíblicas. E naquilo que a Bíblia silencia, há liberdade.
A educação dos nossos filhos deve levar em conta: a realidade caída do coração de toda a humanidade; a necessidade que temos de um redentor; o fato de que os pais são autoridade na vida dos filhos; que o objetivo da educação é conhecer a Deus e Suas obras, a fim de cultivar e guardar a terra; e que a verdade já existe, ela precisa ser descoberta, aprendida e transmitida. Isso é para todos os pais cristãos.
Não podemos escolher métodos que se baseiam em filosofias contrárias a isso. Como cristãos, não podemos ser negligentes nisso. Uma filosofia que acredita que o ser humano é bom, que a verdade é relativa ou que o conhecimento é construído vai contra essas verdades basilares, e devemos fugir disso. Tenho visto que muitos pais não entendem ou menosprezam os impactos que essas filosofias têm nos métodos. Nosso trabalho é apresentar a verdade e orar para que Deus os convença. Enquanto pais, nossa responsabilidade é ter zelo e cuidado com as metodologias e filosofias que trazemos para dentro de casa. Pretendemos tratar desse assunto de maneira mais cuidadosa futuramente.
Contudo, existem áreas que nosso Deus deu liberdade de escolha. Por exemplo, meu esposo é músico, eu sou fluente em Inglês e entusiasta de outras línguas, como Libras. Essas certamente serão prioridades na educação dos nossos filhos. Entretanto, confesso que precisarei me esforçar para que as crianças tenham pelo menos um momento para esportes, já que essa não é prioridade na minha vida hoje e, provavelmente, não será no futuro.
Digo tudo isso para falar que você e sua família só conseguirão definir um método quando souberem o que precisam, onde querem chegar e no que acreditam. Para isso, se reúnam e vejam no que vocês creem. Se você for cristão, não esqueça de buscar essas respostas na Palavra de Deus. Tendo bem claro em mente o que vocês querem, é hora de avaliar as filosofias e metodologias existentes.
#2 Entender a filosofia educacional dos diversos métodos
Entenda o seguinte: todo método terá uma filosofia por trás. Aqui a diretriz é simples: busque entender o que essa filosofia diz sobre Deus, o homem e a criação. Se a filosofia pretendida disser que Deus não existe, ou tiver um entendimento sobre Deus deturpado, essa filosofia não está de acordo com as escrituras e deve ser rejeitada. Se a filosofia fala que o homem nasce bom, a sociedade o corrompe, ou nega o pecado original dizendo que o ser humano pode ser mau ou bom e tem escolha para tal, fuja! Se a filosofia eleva a criação como uma divindade e não como criação que é, com valor em Deus, FUJA!
Pode parecer duro, mas essas filosofias terão consequências educacionais que não são as pretendidas para os pais cristãos. As filosofias educacionais são a cosmovisão de um método educacional. Seu lar não terá um tom cristão e teísta com uma filosofia pagã e ateísta, por isso precisamos desprezar as filosofias pagãs.
#3 Entender os métodos pedagógicos, de onde eles partem (filosofias) e onde eles chegam (objetivo da educação)
Finalmente chegamos ao método! Uma vez que você analisou a filosofia desse método, observe agora como ele é uma ferramenta para colocar a ideia estudada em prática. Mais uma vez precisamos ser cautelosos em distinguir metodologia de filosofia.
Se uma filosofia está de acordo com as escrituras, a sua metodologia também será. Enquanto isso, as filosofias contrárias a Deus precisam ser desprezadas, e as metodologias dessas filosofias devem ser analisadas e a grande maioria será desprezada. Entretanto, devo dizer que algumas poderão ser retidas com os devidos cuidados. Toda verdade é verdade de Deus, e pode proceder de um ímpio com uma filosofia antibíblica, conduzir a uma metodologia que não está errada, ou adulterada em seu contexto. Precisaremos analisar cada caso individualmente e crer que sim, até um relógio parado está certo duas vezes ao dia.
Se isso acontecer, o que deve ser feito? Nesse caso, precisaremos retirar esse método do contexto pagão e, uma vez que percebemos que aquele método está de acordo com os princípios das escrituras, utilizá-lo com os princípios das escrituras.
Por exemplo, há em nosso meio a famosa filosofia educacional de Charlotte Mason, que fala que devemos ter tempo de qualidade e em quantidade na natureza, a fim de que mesmo sem direcionamento dos pais, as crianças sejam ensinadas pela mãe natureza.
Ora, a criação de Deus não é a “mãe natureza” e sozinha não ensina a ninguém, sendo necessário um intérprete (os pais) para ajudá-los. Mas não podemos ignorar o fato de que passamos muito pouco em contemplação da natureza, e que algumas aulas no bosque viriam bem a calhar. Com o entendimento correto e remido do que é a natureza, com o papel adequado do professor (neste caso, os pais), podemos vir a utilizar o seu método de registro dessas visitas ao bosque. Mas veja que o método já foi tão desfigurado do sentido original, que essas visitas guiadas ao bosque dificilmente poderão ser chamadas de visitas “à lá Charlotte Mason”.
Esse fato é importante para que tenhamos dois alertas. Primeiramente, precisamos ser cuidadosos em simplesmente rejeitar tudo que nos for dito. Precisamos avaliar cada coisa com cuidado, prudência e moderação. Isso digo especialmente para que não caiamos no erro de sermos puristas e nos digladiar por qualquer coisa. Mas o segundo é a necessidade de avaliar todos os métodos e filosofias pelos crivos das escrituras. A nossa filosofia deve ser a bíblia e ponto final. Mas os métodos podem ser remidos.
Uma última coisa que deve ser considerada é que, para que possamos distinguir o joio do trigo, precisaremos de maturidade cristã. Se você é novo na fé, peça ajuda a um irmão mais maduro ou ao seu pastor. E mesmo que você já seja um crente maduro, nunca é demais cruzar essas informações com outros crentes, afinal é para essas coisas que Deus nos dá companheiros de caminhada!
#4 Escolher o que está de acordo com o que se crê e se deseja
Tendo analisado o que é importante para a sua família, as filosofias e métodos educacionais, chegou a hora! O que você vai fazer com essa pesquisa? Depende! Vou colocar aqui alguns casos que penso que podem acontecer. Em todos eles o considerei um cristão maduro, mas se você é novo na fé, peça ajuda a alguém mais experiente, pois entendemos que essa análise possa ser difícil!
Primeiro, temos métodos que claramente são tão perniciosos quanto as filosofias. Neste caso, nem perca seu tempo! Esse método não deve ser usado por você.
Depois, indo para outro extremo, há metodologias que claramente estão de acordo com a palavra de Deus. Nesse caso, que alegria! Já temos o padrão bíblico, se essa metodologia vai me ajudar, maravilha!
O terceiro caso seria das filosofias meio-termo. Aquelas que falam sobre Deus, mas falam de uma perspectiva errada. Ou chegam às mesmas conclusões que a Palavra de Deus, mas por caminhos diferentes. Nesse caso, tenho algumas considerações:
A primeira é que não podemos ser ingênuos. Não existe isso de ser mais ou menos crente, ou mais ou menos ateu. Devemos rejeitar todas as filosofias que não estão de acordo com a palavra de Deus. Dito isso, as filosofias que se encaixam nessa categoria não são apropriadas como base para o ensino cristão.
Ao mesmo tempo, se as metodologias têm alguma coisa ou outra que podem ser aproveitadas e remidas, pode ser que as famílias tenham proveito em cavar essas possíveis pérolas e remi-las, tirando-as do contexto original e trazendo-as ao contexto cristão. Lembre-se de quando isso acontece, é porque até mesmo os pecadores podem chegar a alguma verdade. Por isso, remir esse método, é trazê-lo de volta à verdade. Por isso, o mérito da verdade não é o da filosofia. O mérito continua sendo das escrituras, da palavra de Deus. Por isso, mais uma vez, não se deve usar essa filosofia como base para o ensino cristão, apesar de se retalhar algumas metodologias.
Cabe a cada família saber suas possibilidades e limitações. Existem famílias que preferem buscar apenas em fontes certas e seguras, e outras filtram essas metodologias. Caso você esteja em dúvida do que é melhor para sua família, veja que existe uma quantidade limitada de tempo para pesquisa, e uma infinidade de coisas ruins que você terá de ler para filtrar as pérolas em meio ao barro. Entretanto, preciso dizer que esta é uma possibilidade.
Em todos os casos devemos tomar cuidado em não julgar outras famílias de modo temerário, e o de sempre avaliar se o que estamos fazendo realmente agrada a Deus. Em resumo, o que se deve fazer é avaliar tudo pelo crivo das escrituras e fazer aquilo que agrada a Deus. As metodologias precisam ter esse objetivo e cosmovisão por trás delas, e você poderá escolher aquelas que se enquadram nessa categoria.
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Texto: Cynara de Souza – Equipe Educalar
Revisão do Texto: Tércio Bernardes – Pai Educador
Fonte Imagem: https://www.pexels.com/pt-br/foto/ajuda-apoio-auxilio-356079/
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Muitas orientações úteis, porém genéricas. Certamente vcs têm experiência em fazer esse filtro e poderiam dar exemplos práticos de filosofias e métodos compatíveis com as bases da cosmovisão cristã resumidas neste artigo.