Os contos de fadas são histórias muito antigas, passadas de geração em geração. Mas será que essas histórias são relevantes para nós, hoje? Será que elas agregam alguma coisa? E nós como cristãos, podemos fazer uso de histórias que trazem em seu enredo bruxas, fadas, magia e tantos outros personagens fantásticos? Nos acompanhe nesta série de artigos, para que possamos compreender juntos a real importância dessas histórias que acompanham a humanidade durante séculos.

Os Contos de Fadas e Fantasia

Para C.S. Lewis (autor da série de livros: As Crônicas de Nárnia) os contos de fadas e histórias fantásticas se enquadram na mesma categoria. Toda história capaz de levar o leitor à um mundo mágico, sobrenatural e fantástico pode ser considerado um conto de fadas (Lewis C. S. – Três maneiras de escrever para crianças). Para Tolkien, um conto de fadas não se trata de uma história sobre seres diminutos, necessariamente. “[…] porque estórias de fadas não são, no uso normal do inglês, estórias sobre fadas ou elfos, mas estórias sobre Feéria (Reino Encantado), o reino ou estado no qual as fadas existem. Feéria contém muitas coisas além de elfos, bruxas, trols, gigantes ou dragões. Ela abriga mares, o sol, a lua, o céu, a terra e todas as coisas que estão nela: árvores e pássaros, água e pedra, vinho e pão e nós mesmos, homens mortais, quando estamos encantados.” (Tolkien J. R., 2020). Ouso dizer que, muitas das histórias fantásticas que lemos hoje, foram inspiradas nos contos de fadas da antiguidade.

A origem dos contos de fadas e fábulas

Há muitos anos, antes da escrita, as pessoas contavam histórias. Umas serviam para entreter, outras para ensinar.

As fábulas são histórias curtas protagonizadas por animais, plantas ou objetos inanimados que agem como humanos. Apesar de existir desde as primeiras civilizações, a fábula foi desenvolvida na Grécia Antiga, onde foi cultivada por Esopo, Hesíodo e Arquíloco. Nessa época, onde a liberdade de expressão era limitada, esse tipo de narrativa foi utilizada para se opor à opressão, para criticar usos, costumes e governos. Por volta do século XVII, a fábula foi recriada. O francês Jean de La Fontaine reescreveu e propagou as fábulas de Esopo, atribuindo a elas uso educativo. Além disso, La Fontaine caracterizou personagens de acordo com sua aparência. (Educa mais Brasil, 2018). Jean de La Fontaine é considerado o pai da fábula moderna.

“As fábulas não são tão triviais quanto parecem. Nelas, o animal mais simples nos serve de mestre. A lição moral nos entedia, mas nas fábulas é mais fácil digeri-la. Além disso, a fábula tem uma dupla missão: agradar e instruir. Contar contos apenas por contá-los me parece sem sentido. É por isso que, dando rédeas à fantasia, autores ilustres tem cultivado esse gênero.” Disse Jean de La Fontaine (Fontaine, 2012).

Por sua vez, os contos de fadas tem sua origem incerta, visto que iniciou como uma prática oral, onde as histórias eram passadas de pais para filhos verbalmente. Dessa forma, torna-se impossível matá-la. As versões mais antigas de que temos notícia chegaram até nós do Egito e tem mais de três mil e seiscentos anos. Muitas outras histórias vieram da Grécia, Roma e dos quatro cantos do mundo. Como eram transmitidas de memória pela tradição oral, muitos elementos foram acrescentados ou retirados das histórias, como convinha para o orador. 

O que sabemos é que essas histórias eram transmitidas como parte da cultura local, onde através dessa prática se passavam adiante os valores da moralidade. J. R. R. Tolkien, em seu livro “Árvore e Folha”, faz um comparativo entre os contos de fadas e histórias mitológicas da antiguidade, sugerindo que muitos contos podem ter sido originados a partir dessas histórias da antiguidade (Tolkien J. R., 2020).

Os mitos são as histórias mais antigas de que temos notícia. Muitas delas explicam como as pessoas daquela época entendiam os mistérios do mundo. Outro grupo de histórias igualmente antigas são as folclóricas, que pertencem a um determinado grupo geográfico e linguístico. Folclore é uma palavra de origem alemã que quer dizer “conhecimento do povo”, ou seja, são histórias sobre costumes e tradições das pessoas. 

Os contos de fadas mais propriamente ditos começaram a ser escritos entre os séculos XVI e XVII. Muitas dessas histórias passaram da oralidade para a literatura, foram embelezadas. Tiraram o linguajar grosseiro e vulgar e lhes deram uma nova roupagem.

O início das coletâneas de histórias de fadas do mundo ocidental deu-se com um escritor italiano, Giovani Francesco Straparola (1480-1557 – cujo sobrenome em italiano significa “tagarela”). Ao que tudo indica, ele foi o primeiro a chamar esse tipo de história de “contos de fadas”. Sabemos que Straparola é responsável pela primeira versão de “O Gato de Botas” e que o francês Charles Perrault (1628-1703) se inspirou em muitas de suas histórias. Outro importante coletor de histórias de fadas foi o também italiano Giambattista Basile (1566-1632).

O apogeu das histórias de fadas aconteceu nas cortes européias, principalmente nos salões franceses. Entre 1785 e 1789 surgiu uma coletânea de quarenta volumes com as mais famosas histórias da época. No entanto em 1789 veio a Revolução Francesa e pôs fim aos belos salões e à monarquia francesa.

Quase trinta anos depois, vemos despontar a “era de ouro” dos contos de fadas. O surgimento do Estado-nação, o aumento de pessoas alfabetizadas, a consagração da imprensa, a popularização dos livros e a expansão das universidades contribuíram para que aumentasse a curiosidade das pessoas em saber de suas origens. 

Os irmãos Jacob (1785-1863) e William (1786-1859) Grimm mudaram para sempre a história dos contos de fadas. em 1812 eles publicaram o primeiro volume de histórias folclóricas recolhidas da tradição oral. Embora sejam criticados em alguns aspectos, principalmente por associar à tradição germânica as histórias que compilaram, precisamos reconhecer a genialidade desses precursores, que transformaram a tradição oral em literatura escrita e organizaram muitas das histórias que conhecemos hoje.

Na Inglaterra do século XIX existiam muitos folcloristas que tentavam separar o estudo do folclore (a cultura regional) dos contos de fadas. No entanto, um desses folcloristas ainda acreditava na magia das terras encantadas. Seu nome era Andrew Lang. Lang era antropólogo, membro e fundador da Sociedade de Folclore da Inglaterra. E em 1889 decidiu, como experimento, publicar contos de fadas, especialmente adaptados para crianças. Esse livro, viria a ser o primeiro volume de uma coleção exuberante, o Fabuloso Livro Azul. Nos 21 anos em que publicou a coleção de 12 volumes dos “Fabulosos Livros Coloridos”, Lang reuniu mais de quatrocentas histórias, entre mitos, contos regionais e histórias de grandes nomes da literatura fantástica. Andrew Lang influenciou escritores como Arthur C. Doyle, G. K. Chesterton, J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis

Esta foi uma breve introdução aos contos de fadas. Não deixe de acompanhar o próximo artigo, onde falaremos um pouco sobre os valores e a função dos contos de fadas.

Texto: Monique Carvalho

Revisão do Texto: Bárbara Guinalz

Fonte Imagem: Pexels.com

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