Por Flávio Gava
Setembro de 2020

Olá, meu nome é Flávio Gava, sou marido da Daniele e pai da Giovana, do Lucas e do Davi.

A pedido da Educalar, quero tentar repartir com vocês um pouco do que temos vivido em nosso lar, ensinando nossos filhos em casa. Pretendo ser breve, portanto não vou contar toda a história de como chegamos à prática do Ensino Domiciliar (minha esposa já compartilhou um pouco sobre isso no artigo Nossa Vida Homeschooling aqui no blog), mas falarei um pouco do que temos experimentado no dia-a-dia.

Faça Parte da Comunidade EducalarSou cristão. Tenho plena consciência de que os filhos são presentes de Deus, herança de Deus, e que Ele os colocou em nossas mãos para educá-los e treiná-los, a fim de que, por Sua Graça, O glorifiquem em tudo que vierem a pensar ou a fazer. Sei que prestarei contas disso a Ele! Assim, um ponto importante é dizer, de início, que temos buscado aprender a nos importar, em primeiro lugar, com o que Deus estabeleceu como fundamentos a respeito da família, e a partir daí construirmos um lar que viva piedosamente no meio dessa cultura de cosmovisão tão antagônica à cristã. 

Com isso em mente, decidimos assumir total responsabilidade pela educação de nossos filhos. E apesar dos desafios serem grandes, Deus tem nos capacitado, dia após dia. Experimentamos vários sentimentos: medo, sensação de inaptidão, preocupações diversas. Mas, invariavelmente, na medida em que caminhamos em direção do que temos entendido que Deus espera de nós como pais, temos sido abençoados com coragem, firmeza de propósitos e perseverança diante dos obstáculos que se apresentam.

Temos visto, por exemplo, nossos filhos deixarem de ser alunos e passarem a ser estudantes. Eles estão “pegando gosto” em estudar, e isso temos ouvido deles próprios. Claro que não sem investimentos, isto é, todos estamos nos tornando estudantes. A maneira mais didática de ensinar os pequenos é demonstrando na prática o que é importante. Meus filhos têm me visto diariamente lendo a Bíblia e orando com minha esposa; e eles estão lendo a Bíblia também. Têm visto que nos dedicamos à leitura de livros selecionados, e têm se tornado leitores de bons livros.

O mais novo, agora quase com sete, depois que aprendeu a ler (minha esposa o alfabetizou, utilizando o método fônico) tem feito seus devocionais sozinho, muito animado.

No aniversário de 13 anos da minha filha, ela ganhou de presente uma Bíblia de estudos, mesmo presente de meu filho do meio aos 12. Sei que parece estranho, mas ficaram felizes, pois boas expectativas foram criadas em seus corações sobre esses presentes.

Mas também investimos comprando alguns bons livros e aqui faço um parêntese: por mais irrelevante que pareça, nosso carro não é nada novo, e meu celular não é nem de perto aquele que eu gostaria de ter para não ficar, como muitas vezes fico, com vontade de jogá-lo fora… Tenho entendido que é um “momento” muito importante das nossas vidas, e que os modestos recursos que temos à disposição têm que ser direcionados com sabedoria para coisas que realmente importam. E, na verdade, isso tem nos ensinado que não precisamos de muitas coisas que desejávamos.

Adquirimos, de início, livros que despertam mais o interesse deles e, com insistência e perseverança, os ajudamos a apreciarem a leitura. No começo tivemos de motivá-los bastante. Agora, às vezes, temos até de pedir ao Lucas, de 12 anos, que pare de ler um pouco para ir brincar com o Davi.

Tem sido um processo, uma mudança gradativa de conceitos. Acho que isso está muito ligado à desescolarização, que com a devida atenção e preparo deixou de ser um “bicho de sete cabeças”.

Além do culto em família, quase diariamente leio para eles livros de ficção fantástica, por exemplo, e dormem ouvindo as estórias. Sempre perguntam com expectativa: “- Pai, você vai ler hoje?”. Isso me motiva ainda mais a continuar.

Para o estudo acadêmico das crianças, decidimos utilizar o material do Sistema Mackenzie de Ensino, o que tem sido extremamente gratificante, não só pela qualidade, mas especialmente porque foi elaborado baseado na cosmovisão que queremos incutir em suas mentes.

Particularmente, não consigo dar “aulas” aos meus filhos sobre as matérias acadêmicas, e nossos esforços têm sido para que realmente eles se tornem autodidatas. Mas normalmente, quando surgem dúvidas em relação a pontos específicos das matérias, procuro tirá-las diretamente com eles, ou através de diversos recursos (plataforma, consultas ao grupo do Whatsapp, livros, videoaulas e, em casos mais difíceis, uma ou outra aula particular, conforme o orçamento permite). A orientação dada a eles é no sentido de que não passem para o próximo tópico sem entenderem a matéria e resolverem as dúvidas.

Combinei com minha esposa que ela, utilizando o referido material, dedicaria boa parte da tarde à ministração das aulas, especialmente ao mais novo, que está em fase de alfabetização. O resultado tem sido surpreendente.

Mas existe a contrapartida. Isso exige que eu seja mais presente, que ajude nos afazeres da casa de forma mais intensa.

Dia desses ganhamos uma máquina de lavar louça usada, com defeito, e após um pouco de paciência e umas consultas à internet consegui consertá-la. Isso tem ajudado a termos mais tempo disponível para outras tarefas mais importantes. Minha esposa ficou feliz com isso.

Tempos atrás, a Dani estava com um problema nos ombros e na região lombar. Conversando sobre as necessidades, além do tratamento médico, decidimos investir em uma vassoura/aspirador elétrico à bateria, que facilitou bastante parte do serviço de limpeza diária; um celular melhor continuou em segundo plano (ou mesmo fora dos planos, na verdade). São pequenas coisas, mas que somadas apresentam um resultado surpreendente.

Ainda assim, tem sido muito mais intenso para a minha esposa. Ora a pedido dela, ora por iniciativa minha (menos vezes por iniciativa minha, confesso com vergonha), ela tira um dia para descansar, seja um passeio com sua mãe e irmãs, seja mesmo apenas um dia de descanso em casa ou na casa de uma delas, onde a “protejo” das demandas constantes das crianças, procurando eu mesmo satisfazê-las. Claro que, invariavelmente, isso tem que ser dia de sábado. E já combinamos: nada de eu ficar ligando para ela para perguntar qualquer coisa… tem que descansar mesmo.

Não estou tentando dizer outra coisa, senão que Deus tem me chamado a atenção para deixar o egoísmo de lado, e viver “a vida comum do lar” (veja I Pedro 3:7).

Reconheço que não é minha tendência. A natureza me impele em outra direção. Como homem luto contra a falsa sensação de independência e autossuficiência, que leva ao egoísmo. Minha tendência é que sempre seja feita minha vontade – e minha vontade, neste aspecto, quase sempre é contrária ao que sei que devo fazer.

Quanto antes entendermos nossa total dependência de Deus para educarmos nossos filhos para os fins por Ele planejados, mais cedo estaremos preparados para sermos instrumentos Dele para isso.

Nessa busca por viver as pequenas coisas do dia-a-dia com eles, converso com meus filhos praticamente sobre tudo que vemos. Se estamos no quintal, por exemplo, e aparece um pássaro, o observamos comendo sementinhas ou pequenos insetos na grama, e conversamos sobre a provisão de Deus, e sobre como Deus fez os pássaros leves e por isso voam com facilidade e agilidade, e outros assuntos vão surgindo.

Muitas vezes eles mesmos observam algo e dizem: “- Pai, eu estudei sobre isso!”. E então “dou corda” pra que expliquem o que se lembram do assunto, e conversas muito gostosas partem disso.

Após assistirmos a um filme, pergunto quais foram as “mensagens boas” e quais foram as “mensagens ruins” que nos transmitiu. É impressionante como isso faz com que eles mesmos encontrem essas mensagens, de forma cada vez mais profunda.

Não dá pra educar filhos em casa sem ser um pai educador. Não posso achar que minha esposa dará conta sozinha. Será um fardo pesado demais para ela.

Estou aprendendo constantemente, e tenho muito que caminhar nessa trilha. Mas é muito importante saber que meu papel é fundamental, e que sou responsável por minha família!

Não posso fugir das responsabilidades que Deus me deu. Tenho que zelar pela vida espiritual dos meus filhos, pela saúde física deles, pela saúde emocional, pelo desenvolvimento intelectual, por prepará-los para serem responsáveis quando adultos, para que também tenham consciência de seus papéis e da necessidade de assumi-los em qualquer contexto em que venham a estar inseridos.

Encerrando, é importante conversar com minha esposa sobre os filhos e sua educação e, principalmente, aprender a ouvi-la. Conversar sobre eles tem nos levado a orar mais por eles e com eles. Não só conversar com a esposa sobre os filhos, mas sobre todos os aspectos da vida.

A Bíblia nos ensina que, além do homem ter de deixar pai e mãe para formar sua própria família, que Deus viu que não era bom que o homem estivesse só e lhe deu uma auxiliadora/ajudadora que lhe fosse idônea. Também ensina que o homem que acha uma esposa, acha o favor de Deus. Em Cristo o papel do homem e da mulher foram restaurados. O Evangelho me chama a amar minha esposa como Cristo amou a Igreja. Só posso fazer isso na dependência de Cristo.

Assim como uma boa construção só pode ser estabelecida sobre um alicerce firme, e um alicerce firme só pode ser planejado por um bom engenheiro, uma boa educação só pode ser construída no alicerce de um casamento que glorifique Aquele que o planejou.

Texto: Flávio Gava – Pai Educador.
Fonte Imagem: Família Gava

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