Por Dani Gava
Março de 2020

Meu nome é Daniele, sou casada com Flávio há 20 anos e temos 3 filhos: Giovana, de 13 anos, Lucas, de 12 anos, e Davi, de 6 anos.

Hoje vou compartilhar com vocês um pouco da história da nossa família com a Educação Domiciliar.

Já tínhamos ouvido falar sobre o homeschooling há muitos anos. Achávamos muito lindo, mas não considerávamos como uma opção para nós.

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Eu e meu esposo sempre levamos o assunto FAMÍLIA muito a sério (papel do marido, da esposa e nosso papel e responsabilidade como pais), sempre buscando aprender como superar nossas deficiências.

Desde que nossa primeira filha nasceu, em 2006, nós decidimos que eu deixaria de trabalhar fora e ficaria em casa para não terceirizar a educação de nossos filhos. 

Nossos filhos, contudo, na idade exigida, foram para a escola como todas as crianças que conhecemos vão.

Quais foram os motivos que nos levaram a decidir pela educação domiciliar?

Primeiramente, foi o entendimento claro de que a responsabilidade pela educação dos filhos é dos pais.  Entendemos que a escola deveria ensinar os filhos já educados em casa pelos pais. Percebemos que a escola está sobrecarregada, tentando fazer um papel que não lhe pertence (e nem poderia pertencer), recebendo crianças mal educadas e desrespeitosas, prejudicando o seu papel primordial, que é o do ensino.

Com o decorrer dos anos, aconteceram diversas coisas desagradáveis, fatos que poderiam marcar negativamente a vida das crianças (e de fato, alguns marcaram). Nesse tempo, durante as tardes eu conversava com eles sobre como tinha sido o dia e perguntava o que eles tinham aprendido. Muitas vezes (muitas mesmo!) eles questionavam as coisas que haviam aprendido, pois elas confrontavam o que havíamos ensinado em casa.

Com o tempo foi ficando cada vez mais difícil deixá-los lá, pois nós tínhamos serviço dobrado. Muitas coisas que eles estavam aprendendo, especialmente em matérias como filosofia, artes, ciências, geografia e história, eram distorções da realidade, carregadas de conteúdo ideológico e de uma cosmovisão anti-cristã, por vezes, mentirosa. Tínhamos que desfazer os enganos. Recentemente, meu filho me disse que estava muito feliz de estar estudando em casa, pois “não precisava mais ficar ouvindo tantos palavrões e besteiras o tempo todo, durante as horas que estava na escola”.

Entendendo nossa responsabilidade e com a situação ficando cada vez mais insustentável, tomamos a decisão pelo homeschooling.

Começamos a estudar o assunto em 2018, mas percebemos que éramos muito desorganizados para tal missão! Isso não fez com que desistíssemos. Começamos a estudar sobre organização e rotina. Demos início à “operação desentulhar e organizar” (rsrs). Organizar a casa e estabelecer rotina não foi fácil, mas com a graça de Deus temos conseguido! É claro que não nos tornamos a família mais organizada do mundo, mas o suficiente para encarar o desafio.

Em 2019, começamos a estudar tudo que aparecia sobre homeschooling: artigos, testemunhos de famílias, inclusive das famílias que enfrentaram denúncias, pois não queríamos entrar desavisados.

Mais ou menos em junho de 2019, eu e meu esposo sentamos para conversar definitivamente sobre o assunto.  Eu ainda estava com aquele “frio na barriga”…

Foi quando meu esposo me disse: “O que vamos fazer está de acordo com a Palavra de Deus?” “Sim”, eu respondi.

“O que vamos fazer glorifica a Deus?” Mais uma vez a resposta foi “sim”.

“Então não precisamos ter medo, estamos assumindo uma responsabilidade que sempre foi nossa e estávamos negligenciando em parte!”

Contamos para as crianças. No começo, acharam estranho, pois nunca tinham ouvido falar sobre educação domiciliar e nós não conhecíamos ninguém que estudasse em casa. Conforme foram ouvindo as vantagens e entendendo como funcionaria, foram criando boas expectativas.

Foi mais ou menos nesta época que descobrimos a Educalar. Decidimos fazer o cursoComo Começar, que nos deu “o fio da meada”, e também passamos a utilizar muito a plataforma da Educalar.

A Educalar foi e tem sido mais que um excelente apoio para nós. Temos visto a quantidade e a qualidade do conteúdo, que em muito tem nos ajudado, inclusive!

Agora, vou compartilhar um pouco como tem sido nosso dia a dia em 2020.

Nossos filhos levantam às 8h (eles amaram isso, porque acordar às 6h todos os dias era uma tortura para eles, e conseguir tirá-los da cama era para mim).

Eu e meu esposo levantamos às 6h (para estudarmos a Bíblia, termos nosso tempo de oração e organizar o quarto antes que as crianças acordem).

Como é a nossa rotina homeschooling com 3 filhos?

Antes do café, as crianças fazem o devocional. Os mais velhos fazem sozinhos (eles estão lendo a Bíblia com um plano de leitura, com o auxílio de um caderno de perguntas que nós fizemos para eles). O caçula faz o devocional com o papai, usando, por enquanto, o livro “O Evangelho Para Crianças”, de John B. Leuzarder.

Enquanto as crianças estão fazendo o devocional, eu preparo o nosso café e, depois do café, fazemos nosso culto familiar.

(Quanto ao culto familiar, recomendamos a leitura do livro Adoração no Lar, de Joel Beeke; indicamos também a Bíblia de Estudo Herança Reformada, que traz, dentre tantos outros recursos, uma breve meditação e perguntas para reflexão voltadas para o devocional/culto familiar em cada capítulo de todos os livros da Bíblia).

Depois do culto, vamos para os estudos.

Com os mais velhos, a princípio, estamos focando os estudos no conhecimento de Deus, pois, até agora, o que eles aprenderam na escola foi colocando o Senhor à parte.

Quanto à questão acadêmica, vamos utilizar como base com os três o material do Mackenzie.

Também estamos dando mais enfoque na leitura, visando a compreensão de texto e a boa escrita (pois essa é uma parte muito importante para que eles se tornem autodidatas).

Nosso objetivo é que desenvolvam a capacidade de aprender e o prazer em aprender, e não que somente obtenham uma quantidade enorme de informações.

Eles não tinham o hábito de leitura de livros, apenas liam a Bíblia. A escola exigia a leitura de livros impostos pelo currículo (livros que eles achavam chatos).

O falecido professor Pierluigi Piazzi afirmava em suas palestras e em seus livros que “todos têm seu livro” e que, “para despertar o leitor que há em você, só precisa encontrar o seu”.

Eu testifiquei isso aqui em casa. Deus nos deu o privilégio de conhecer o Reverendo Doutor Leandro Lima, que também é professor de teologia do Instituto Reformado de São Paulo, bem como suas excelentes obras literárias (as quais recomendamos todas). Uma delas, em especial, foi a responsável por “despertar os leitores” aqui em casa. Trata-se da obra de ficção fantástica “As Crônicas de Olam”, em três volumes.

Apresentamos o Volume 1 aos meus filhos mais velhos e eles simplesmente amaram! Meu filho do meio (Lucas) já leu os três volumes, cada um com mais de 500 páginas.

Providenciamos “O Hobbit” e ele já leu, e assim tivemos que nos apressar para providenciar a trilogia de “O Senhor dos Anéis”. Esse menino não pára mais de ler!!!

Minha filha mais velha também amou e já está terminando o Volume 2 de “As Crônicas de Olam”.

Isso empolgou muito o caçula, que não vê a hora de conseguir ler sozinho para ler os livros que os irmãos estão lendo!

No período do estudo da manhã, enquanto eu estou com o caçula, o pai estuda e também fica disponível para auxiliar os mais velhos (caso tenham alguma dúvida). Meu esposo trabalha fora a partir das 11h30, e isso ajuda muito.

Com o mais novo tem sido um aprendizado para nós dois, pois eu, como mãe, já ensinei meus filhos a falarem, andarem, comerem, etc, mas nunca tinha ensinado um filho a ler e escrever! Como não sou pedagoga, pensei que seria muito difícil. Graças a Deus, devido ao Método Fônico de Alfabetização, tem sido uma experiência maravilhosa e emocionante!

Depois dos estudos da manhã, nós almoçamos e, após a refeição, eles dão uma descansada, assistindo um filme ou episódio de um seriado pré-selecionado, com áudio e legenda em inglês.

Depois do filme/seriado, temos um tempo ao redor da mesa da cozinha (eu e os três filhos). Enquanto faço um ditado para os mais velhos (eles escrevem o ditado no caderno de caligrafia e depois fazemos correções ortográficas), o caçula faz atividades de coordenação motora e, na sequência, fazemos uns 10 minutos de Latim, por enquanto, utilizando um aplicativo.

Na parte da tarde, em que eles ficam com horário livre, na medida do que nos é possível, lhes disponibilizamos alguns recursos (caixas de papelão, tintas, cola quente, telas para pintura, ferramentas, Lego, canos de PVC, massinhas, massinha de biscuit, instrumentos musicais, etc), para explorarem suas criatividades e desenvolverem talentos.

Decidimos não dar smartphones aos nossos filhos e o acesso a qualquer tipo de telas (tempo de TV, tablet, etc) é bem restrito. Nós lhes mostramos as razões, inclusive científicas, para que essa decisão fosse uma decisão deles também, e com a graça de Deus, tivemos êxito.

Algumas vezes, eles se sentiram entediados quando diminuímos o tempo de TV, mas explicamos que o tédio era um terreno muito fértil para ideias criativas. Eles não curtiram muito essa explicação até começarem efetivamente a ter ideias criativas!

O quintal, às vezes, se transforma em uma verdadeira bagunça e seus projetos ou brincadeiras por vezes emendam uns dois ou três dias! Nesse aspecto, eu tenho aprendido e exercitado a necessidade de lidar com o conflito ordem e organização/importância de bagunça criativa!

Após o jantar temos a leitura em família feita pelo papai. Atualmente estamos lendo “As Crônicas de Nárnia”.

Nem todos os dias são perfeitos e tudo roda direitinho, mas mesmo em dias muito ruins eu vejo a graça de Deus e Seu amor.

Por exemplo, semana passada fiquei gripada e não consegui fazer absolutamente nada, só ficar deitada. Em um dos dias, por volta das 14h, minha filha mais velha entrou no quarto com um almoço para mim (ela tinha feito o almoço para os seus irmãos, arrumado a casa e fez uma escolinha com o meu caçula, fazendo um reforço das coisas que ele estava aprendendo).

E os dois mais velhos cumpriram a rotina, pois a sequência da rotina está afixada na parede, e é só seguir. A rotina não é para engessar, mas para auxiliar.

E como eu faço tudo isso e ainda cuido da casa?

Eu não dou conta de tudo e estou muito longe do ideal, mas tenho aprendido a priorizar o que é, de fato, mais importante.

  1. Meu relacionamento com Deus
  2. Meu primeiro ministério (meu esposo Flávio)
  3. Meu segundo ministério (meus filhos)
  4. Cuidados da casa (Conforme Tito 2)

Se der tempo eu faço alguma outra coisa.

Por isso, para mim a rotina por escrito também tem sido muito importante. Eu não tinha ideia de quanto tempo eu perdia “que nem barata tonta” pela casa (“O que é que eu faço agora?”, “O que é que eu vim fazer aqui?”, rsrs – eram perguntas constantes).

Colocando no papel a sequência do que preciso fazer, não preciso ficar pensando no que tenho que fazer, é só seguir o cronograma. Minha cabeça não fica tão sobrecarregada e aí eu posso até usar o tempo de trabalho para estudar, ouvindo palestras e audio-books enquanto, por exemplo, faço comida, lavo louças, etc.

Foi assim que aprendi algumas coisas sobre organização: aprendi como desentulhar, aprendi que arrumar e organizar são coisas bem diferentes e como é importante que todas as coisas tenham “sua casa”.

Entendi que é muito importante que eu tenha um tempo de leitura e normalmente só consigo esse tempo depois que as crianças vão dormir.

Esperamos que nosso testemunho ajude de alguma forma, como já fomos imensamente ajudados com os testemunhos de outras famílias educadoras.

Texto: Dani Gava – Equipe Educalar
Revisão do Texto: Jemima Ribeiro –  Voluntária Educalar
Fonte Imagem: Dani Gava – Equipe Educalar

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